1: Primeiro encontro
1996/06/06
Tínhamos marcado de nos ver no parque da
esperança às 7 horas da noite. Seria perfeito. Quando o vi chegar, foi como se
a felicidade estivesse caminhando até mim. Era como a água de um riacho que
corre com uma facilidade extrema. Seu sorriso curou todas as minhas feridas.
Ele iria descobrir todos os meus segredos sobre a imortalidade e com isso ele
me teria para todo o sempre. – Diário de Denis.
O
parque estava bem movimentado, cheio de casais passeando com seus filhos. Um
carrinho de pipocas e algodão doce. Era muita felicidade ao redor de Denis e
isso o deixava incomodado. Estava muito feliz e ansioso para o seu encontro com
Lucas. O tinha conhecido numa festa de aniversario de um de seus amigos não
muito próximo. A festa tinha sido um saco. Mas tinha conhecido um cara legal e
aquele foi o motivo para ele ficar até o final da festa. Os dois trocaram
telefone e marcaram de ser ver.
Fazia
muito frio. Já estava ficando impaciente. Ele estava demorando demais. Denis
olhou para o relógio no pulso. Eram 07h02min. Passaram-se apenas 2 minutos. Mas que droga. Pensou Denis. Gostava
sempre de ser pontual. Sempre que tinha um compromisso. Chegava cedo alguns
minutos antes. Mas nunca entrava no local marcado antes do horário. Contava o
tempo no relógio e esperava até o ultimo minuto e aí sim caminhava até seus
últimos passos. Sendo sempre pontual.
Estava
distraído olhando aquelas crianças correrem com balões para todos os lados.
Quando viu um rapaz de camiseta azul escura de mangas compridas e calça jeans
vindo em sua direção.
Meu deus! Ele realmente veio.
– Boa noite Denis. – Disse Lucas
aproximando-se de Denis dando-lhe um abraço. – Estou muito feliz em poder
revê-lo.
– Boa noite. Eu também estou
muito feliz por isso, e mais ainda por ter vindo. – Respondeu Lucas um pouco
sem jeito.
– Eu confesso
que estou um pouco nervoso. – Lucas falou num tom baixo, como se não quisesse
que ninguém escutasse aquilo. Logo depois se sentou ao lado de Denis no banco
do parque.
Denis
sorriu. Deixou transparecer que estava muito feliz por estar ali. E quando
Lucas retribuiu os risos. Denis estava paralisado naquele sorriso que lhe
trazia uma tranquilidade na alma. Nunca tivera sentido isso antes.
– Você esta bem? – Perguntou
Lucas percebendo que Denis estava paralisado em algo nele.
– Sim... Estou bem. – Respondeu
Denis disfarçando o olhar.
– Você mora com seus pais? –
Perguntou Lucas como se estivesse puxando assunto.
– Não os conheço... – Denis fez
uma pausa e pensou baixando a cabeça. – Eu fui adotado. Meus pais eram muito
pobres, não tinham condições de me criar. Hoje moro sozinho. A minha mãe de
criação faleceu ano passado num acidente de carro com o marido dela.
– Eu sinto muito. – Lucas
demonstrava no olhar que conseguia compreender a situação pela qual Denis tinha
passado. Realmente tinha sido uma barra muito pesada.
– Hoje eu estou bem. Pode ter
certeza disso.
– Você nunca buscou saber se
tinha irmãos dos seus pais biológicos? – Lucas demonstrava-se curioso para
saber sobre o assunto.
– Não. Nunca na verdade. Nunca
pensei nessas possibilidades. Minha mãe de criação era dona de uma fortuna
muito grande. Era casada com um americano. Que me ensinou sua língua. Eles
também ajudavam instituições de caridade. Adoravam crianças. Minha mãe nunca
pode ter filhos. Por isso, decidiu adotar uma criança. E acabou me encontrando.
– Podemos ir até a sua casa um
dia. Deve ser bem melhor conversar em um lugar mais calmo. Aqui todos nos
observam. Isso me deixa um pouco preso.
– Claro que sim. Temos muitas coisas
para conversar. – Denis abriu um sorriso um pouco enigmático.
– Quer comer uma pipoca? Ou quem
sabe algodão doce? – Lucas soltava um sorriso sincero nos lábios. Agora
quebrando o clima chato de historias triste.
– Pipoca, por favor. – Denis
retribuía o sorriso.
Vendo
aquele belo homem se distanciar dele um pouco. Reparou no seu corpo. Ele queria
poder abraçá-lo logo. Lucas olhava para trás com um olhar ingênuo. Não sabia o
que se passava na cabeça de Denis. Era um rapaz bonito, inteligente e parecia
ser uma pessoa confiável. Lucas sentia que poderia ter algo com ele, mas quando
estava perto dele algo ao mesmo tempo gritava “perigo”, “fuja daqui”.
Quando
Lucas voltava na direção de Denis. Que Parecia impaciente como se não quisesse
mais estar ali.
– Esta tudo bem com você? Parece
impaciente! – indagou Lucas sentando ao lado de denis no banco do parque.
– esta tudo bem. É esse lugar.
Muito agitando. Gosto de lugares mais calmos. – Respondeu Denis com um olhar
calmo para Lucas.
– Eu também prefiro lugares mais
calmos. Podemos ir para minha casa se quiser. Eu te levo. – Lucas demonstrava
um grande interesse nisso.
– Não acho que seja uma boa idéia
para primeiro encontro se é que você me entende. – Soltou um sorriso ingênuo
para Denis.
– Eu concordo com você. Não íamos
fazer nada que não quisesse. – Provocou Lucas.
– O que tem nessa pipoca? Sal ou
safadeza? – Denis deixou escapar a graça.
Os
dois riram juntos. Estava descontraído o clima tenso entre os dois. Pelo jeito
estava dando certo. Depois que pararam de rir, Lucas o olhou nos olhos, o
sorriso ainda estava se apagando em seus lábios. Denis o olhava sentindo o
desejo que ele estava despertando em si. De repente Denis levanta do banco e
puxa Lucas pela mão para que também ficasse de pé e seguiu andando para algum
lugar.
– O que esta fazendo? – perguntou
Lucas se aproximando de Denis.
– Quero que você veja uma coisa
comigo.
Denis
pegou pelo braço de Lucas e depois soltou para que as pessoas não estranhassem
nada sobre eles. Denis o levou até uma escadaria que tinha no parque, que subia
até um terraço na parte de cima. Chegando à parte de cima. Lucas jogou o saco
de pipocas no lixo que havia ali perto e admirou o local. Tinha vários
canteiros com varias plantas. E o mais magnífico era os prédios ao redor e o
céu grande e azul escuro cheio de estrelas.
– Meu deus. Aqui é lindo... Como
nunca tinha vindo aqui antes? – Lucas estava realmente muito admirado. Olhava
para todos os lugares ao mesmo tempo como se não quisesse perder aquele momento
e gravá-lo na memória para sempre.
– É lindo não é mesmo? –
Perguntou Denis que estava olhando diretamente nos olhos de Lucas. Seus olhos
brilhavam como de uma criança inocente.
– É genial! Perfeito! Magnífico! –
Lucas estava sem ar.
Os
dois estavam de frente um para o outro. Deixaram cruzar seus olhares alguns
momentos. Estavam admirando a beleza daquela cidade e das estrelas bem em cima
de suas cabeças. As mãos de Denis alcançaram as de Lucas. Agora Lucas o olhava
nos olhos. Os dois se aproximaram um pouco um do outro. Sentiam medo. Não havia
ninguém mais ali em cima a não ser eles. Era aquele o momento que Denis
esperava desde a última vez que o viu.
– Esse momento eu imaginei
inúmeras vezes antes de dormir. – Disse Denis soltando um sorriso tolo.
– Você esta falando sério? Eu
estou impressionado com tudo isso. – Lucas falava olhando para os lugares ao
seu redor.
– É realmente muito lindo esse
local. Sempre gostei daqui.
– Mas o que mais me chama a
atenção diante disso tudo... É você.
Denis,
que estava com a cabeça baixa, logo levantou rapidamente observando aquele
olhar malicioso que surgia no rosto de Lucas.
– Eu acho que...
– Não diga nada. – Lucas o
interrompeu de imediato num abraço muito forte.
Denis
sentia as mãos de Lucas nas suas costas lhe aquecer. Sua cabeça por cima do
ombro de Lucas olhava a cidade se perdendo de longe. Sentiu o cheio que vinha
do pescoço de Lucas. Aquilo o deixou perdido. Seu coração agora batia mais
forte. Seus corpos se afastaram rapidamente, estava sendo guiado por Lucas. Os
olhares agora mais fortes. Perderam-se em um beijo. Denis sentia o gosto que
vinha de sua boca. Conseguia sentir o calor. Quando acabou. Denis o olhava
perdidamente. Logo tentou disfarçar.
– Acha que vamos nos ver mais
vezes? – Perguntou Lucas.
– Se você quiser, sim. Muitas
vezes.
– Isso será o inicio de um
romance? – Lucas demonstrava-se um pouco inseguro, parecia que algo o
perturbava.
– Não sei. Romances dão indícios
de que tudo vai ter um final feliz. Não sei o que vai acontecer amanha, mas o
que aconteceu hoje pra mim foi maravilhoso.
– Pra mim também. Eu tenho certo
receio em me envolver com as pessoas. Medo de me apaixonar.
– Não precisa ter medo comigo.
Sei de coisas que se você souber você nunca mais vai me deixar. – Denis soltou
um riso simpático e sedutor para Lucas.
– Então pretende assumir um
relacionamento comigo? – Lucas perguntou um pouco curioso.
– Não sei o que vai ser do dia de
amanha. Mas o meu hoje já me deixou bastante feliz. Esperar? Sim! Eu espero te
ver mais vezes. Espero ansioso a partir desse momento.
– Acho uma boa idéia irmos embora
para poder sentirmos saudades um do outro. O que você acha?
– Acho que me deve mais um beijo!
Lucas
mais uma vez aproximou-se de Denis que agora segurava a cabeça dele e o beijava
como se não fosse haver um amanha. Estava claro que os dois não queriam assumir
um para o outro suas vontades. Denis não queria deixar transparecer sua vontade
de possuir Lucas somente para ele em um elo de compromisso. E Lucas tinha medo
de apaixonar-se por ele. O calor do pecado estava subindo entre os dois quando
Denis interrompeu o beijo.
– Melhor irmos embora como disse.
– Denis demonstrou gostar daquilo, mas estava achando muito para um primeiro
encontro.
– Claro. Como quiser. Vou
aguardar muito nosso próximo encontro.
– Eu também. A gente se fala. –
Denis soltou um sorriso enigmático nos lábios.
Saindo
sem se despedir formalmente. Denis caminhou até as escadas. Depois de descê-las
caminhou ate o lado oposto do lugar onde estavam conversando no banco do parque
até a beirada onde havia um carro. Tudo em sua cabeça estava em perfeitas
ordens de acontecimento. Conseguiria ter um relacionamento com Lucas logo.
Lucas não sabia o que se passava na cabeça daquele rapaz. Ele parecia muito
diferente de todos os rapazes que ele já tivera conhecido. Isso era ótimo.
Quando
Lucas desceu as escadas não o viu mais. O
que ele quis dizer quando falou em segredos? Pensou Lucas. Os segredos que
ele nunca imaginaria estariam bem aos pés dele logo logo. Mas o que ele não
imaginava é que o preço de um segredo é muito caro. Segredos nunca podem ser
contados. E quando contados não são mais segredos. A não ser que a pessoa que
recebeu o segredo mantenha-se calado como um cadeado sem chave. Ou então seja
morto pelo seu fornecedor de segredos.