quinta-feira, 24 de julho de 2014

O Menino Azul



          Eu me sinto tão velho. Mas eu nunca me senti tão bem em toda minha vida, apesar das dores que sinto em todo o meu corpo, mas sei que é por causa da idade, então isso não importa. O dia hoje amanheceu muito bonito em Wallingford. O parque Bull Croft, olhando aqui da janela, parece bastante convidativo para uma caminhada, mas parece impossível quando você sente que suas pernas já não andam como deveriam. E por isso eu vou levando a vida aqui pela janela. Observando as pessoas passarem. Acho que eles não sabem viver a vida de forma correta. Eu queria estar no lugar delas, mas não poderia.
Minha neta Molly Grace sempre vem me visitar. Na verdade, ela cuida de mim como se eu fosse um bebê recém-nascido. Ela tem 19 anos e ainda está solteira. Pelo menos é sempre isso que ela me diz. Sempre que pergunto sobre seus relacionamentos ela sempre me responde que as pessoas hoje não levam mais nada a sério. E acho que acredito nela. Acho que já esta quase na hora dela chegar inclusive.
Enquanto ela não chega, observo a vida passar pela janela, e penso em algumas coisa que já vivi e algumas coisas que eu gostaria de ter vivido com mais coragem. Só agora percebo que errei e que o tempo não volta. Alguns arrependimentos me perseguem quando repouso minha cabeça à noite, e se transformam em sonhos quando consigo dormir. Quase sempre acordo no meio da noite chorando por ter sonhado com ele mais uma vez, o horizonte.
Escuto a porta se abrir de repente e continuo olhando pela janela, pois sei que é minha Neta Molly.
– Eu disse pra você me esperar chegar para que você não descesse as escadas sozinho vovó. ­ - Molly, como sempre com seus tons de preocupação, mas sempre falava comigo com uma voz suave, mesmo que eu quebrasse alguma de suas regras.
– Desculpa Molly. Eu não resisto deixar de ouvir os seus sermões. Você é uma menina boa que se preocupa comigo. – Falei olhando em seus olhos. Lindos olhos azuis.
– Esta desculpado. Só me promete que não fará mais isso. Se você caí escada a baixo, Deus me livre que isso aconteça... Eu nem consigo imaginar isso. – Molly abria o restante das cortinas da sala, e depois me olhou fixamente e perguntou com um sorriso entre os lábios. – Já tomou café esta manhã? Senhor Charles Ross.
– Aceita me acompanhar Senhorita Molly Grace? – Respondi também sorrindo.
                Como de costume em todas as manhãs, ela me levava até o meu quintal, onde eu poderia ver a grama verde, as plantas, e as flores que minha falecida mulher plantou, mas que ainda continuavam bonitas como sempre. Sentei-me em uma cadeira aconchegante e pus meus óculos sobre a mesa. Logo depois Molly foi até a cozinha, fez um chá, consegui ouvir o som do bule. Depois ela saiu pela porta dos fundos me olhando com aquele olhar brilhante de sempre. Em suas mãos uma bandeja, com frutas, biscoitos e pães. Molly sempre comprava pães todas as manhãs. E o bule com o chá. Nos servimos e começamos a admirar a fonte no quintal. Sempre gostava de ouvir o som da água caindo, me fazia relaxar um pouco a mente.

– O senhor ainda consegue ver ela aqui? – Molly demonstra preocupação sobre mim, devido a falta que minha falecida esposa fazia.
– Sim Molly. Sempre. – Fico em silêncio.
– Eu estava vendo que o senhor ainda guarda alguns objetos dela. Gostaria de se livrar delas?
– Sim Molly. O que você puder fazer faça por mim. Estou impossibilitado de caminhar um quarteirão sozinho.
                Apesar de Molly ser aquela garota meiga de sempre. Eu media minhas palavras com ela. Eu tinha medo que um dia eu falasse algo demais, e acabasse abrindo meu coração para ela e estragasse a imagem de bom velhinho que ela ainda tem de mim. Ficamos conversando coisas aleatórias. Logo ela preparou o almoço e comemos juntos e como de costume ela volta para sua casa e me deixa sozinho.
                Decidi que iria dormir no quarto de baixo, já que estava quase impossível dormir no meu antigo quarto do andar de cima. Minhas pernas já não aguentavam mais e Molly não podia ficar sempre fazendo esse sacrifício por mim. Estava velho, e precisava tomar cuidado, não poderia cair da escada e deixar que minha neta encontrasse um velho morto. Iria deixa-la traumatizada. Dormir no quarto de hospedes me fez pensar a noite toda em minha vida, já que eu não estava conseguindo dormir.
               
                No dia seguinte, acordei com barulhos pela casa, parecia que havia muitas pessoas andando por todo lugar. Então decidi me levantar e dar uma olhada para ver o que estava acontecendo. Quando saio do quarto, acabo descobrindo que não foi uma boa ideia ter levantado esta manhã.
– Surpresa! – Grita minha neta Molly, fazendo com que todos os familiares viessem até a porta onde eu estava.
– Surpresa! Feliz aniversaria! Parabéns! – Era o que todos diziam com sorrisos largos entre os lábios.
                A verdade é que eu não estava muito feliz. Mas fingi felicidade. Eu não queria estragar a boa vontade de ninguém por minha infelicidade, então fingi estar alegre com aquilo tudo. Agradeci a todos e quando me vi estava vestido e sentado no jardim, na minha velha cadeira aconchegante, admirando a fonte que jorrava água e que me trazia paz.
                Fiquei durante um tempo admirando a fonte até que uma criança, que eu não lembrava bem. Parecia com um de meus bisnetos. Realmente não sabia quem era aquele pequeno ser angelical que estava sentada ao meu lado me olhando com grandes olhos azuis.
– O senhor é o aniversariante de hoje! – Disse a menininha, que deixava seus olhos grudados em mim.
– Sim, é meu aniversario hoje. Você parece feliz. – Respondi.
– O senhor não? Eu estou muito feliz. O senhor me faz pensar umas coisas. – Diz a garotinha sorrindo.
– Que tipo de coisas? – Pergunto curioso.
– Uma vez uma professora da minha escola, me falou que quando eu crescer e ficar velhinha, eu poderei relembrar coisas boas que já vivi.
– Sim. Isto é verdade. Poderá lembrar-se de muitas coisas. Eu me lembro de bastante coisas. Sua professora tem razão. Nossa mente é como uma câmera fotográfica, que registra os melhores momentos da vida.
– O senhor não parece estar tirando fotos nesse momento. – Afirmou a garotinha que neste momento estava olhando ao seu redor, para a festa de aniversario que celebrava a idade daquele velhinho.
– Você tem razão minha pequena. Talvez a minha visão já não ajude muito. – Ri um pouco depois que disse isso, e escutei risos da pequena garotinha.
– O senhor deve ter bastante histórias divertidas para contar. – Retrucou a garotinha que parecia curiosa.
– Não muitas. A minha historia é triste. – Depois que disse isso, abaixei minha cabeça.
– Então você pode me contar, e se em algum momento eu rir, é porque sua historia não é triste. – Disse a garotinha que deixava seus olhos brilharem de entusiasmo.
– Qual seu nome minha pequena? – Perguntei curiosamente.
– Rose Jewelers. Você poderia me chama de Pequena Rose. – Sorriu a pequena garotinha.







ir embora

  Me deixe em paz. Quando eu quiser ir embora, me deixe ir. Você não precisa me dizer mais nada. Não precisa fingir que somos amigos. Não pr...