quarta-feira, 5 de março de 2014

O Menino Azul


Depois de grande insistência de James, eu acabei cedendo para ouvir o que ele tinha para me dizer. Correu para o lado de fora do orfanato, e seguiu pelo caminho do jardim que estava todo coberto de neve. Fazia muito frio e eu estava sem o casaco. Quando chegamos ao local que ele queria ficar, parei e somente o observei ate que ele dissesse algo. Ele ficou calado, então decidi quebrar o silêncio.

– Ta fazendo frio aqui fora. O que é tão importante que você não pode me dizer em um lugar mais quente? – Perguntei olhando para James que tentava se aquecer com seu casaco de frio.
– Lá dentro elas podem nos escutar. E eu quero que você, somente você saiba disso. Promete que não vai me decepcionar? – Quando James falou que elas poderiam nos escutar, ele quis falar das freiras que cuidavam da gente no orfanato.
– Prometo que a única coisa que vai me decepcionar vai ser se você não contar isso logo. Estou com frio! Seja rápido. – Eu tentava me aquecer com os próprios braços, pois não tinha pegado um casaco.

James tirou seu casaco, percebendo que eu estava sentindo frio. Então aceitei como gesto de educação. Ele olhou em meus olhos e sorriu, e pela primeira vez eu senti que aquilo era muito bom. Senti-me protegido.
– Obrigado James. – Agradeci.
– O que tenho pra te dizer agora é mais forte do que tudo que você já me disse. Tudo que você me contou sobre sua família, sobre a morte de seu pai, e o abandono da sua mãe. Eu sinto muito por tudo isso. Mas eu sinto algo por você muito forte e não consigo explicar. – James me olhava com um olhar tão triste e isso me deixou incomodado.
– Eu não queria preocupar você com as minhas coisas, esqueça isso e vamos pra dentro do orfanato, está fazendo frio e elas podem nos pegar aqui. – Eu não entendia o porque de James estar me dizendo aquelas coisas naquele estado, do lado de fora e no frio.
– Escute. As freiras nos matariam. Mas eu quero que saiba que eu descobri algo novo. – James falou a palavra novo e eu senti que aquilo era bom, vi um brilho em seu olhar.
– O que você descobriu? – Olhei para James curioso, querendo saber o que ele tinha pra me dizer.
– Quando você me contou que achava que a terra acabava no horizonte, e que um dia você gostaria de conhecer o fim do mundo, você me contou que tinha descoberto que a terra era redonda e que isso tinha perdido a magia, e que você gostaria de ter descoberto isso com as pessoas que você mais amava, mas agora você sabe que está sozinho.
– Porque você esta me dizendo isso James? Eu não preciso que você me jogue essa realidade. Isso é tão cruel. Não esperava isso de você. – Dei as costas para James e decidi ir embora quando senti sua mão me puxar de volta pra ele.
– Você não está sozinho Charlie. Você tem a mim. Eu prometo ir com você até o horizonte. – Vi seus olhos se encherem de lágrimas.
– Eu sei que não há um novo horizonte após o horizonte. Lembra quando falei que isso tudo tinha perdido a magia pra mim? – Falei olhando sério pra ele e um pouco triste pela minha família, por me sentir sozinho.
– Lembro sim. Você vai descobrir o horizonte sozinho?
– Sim. Eu vou sozinho James. Eu não sei o que vai ser do dia de amanhã, mas eu sei que vou estar bem.
– Eu quero ir com você Charlie. Por favor. Me promete que eu poderei ir com você até  lá.
– Eu não sei James. Você sabe que isso pode não...

Fui interrompido por algum movimento que não entendi bem o que era. Foi tão rápido que nem eu sabia direito o que estava acontecendo. Eu senti o calor dos lábios de James junto ao meu. Depois que eu percebi o que estava acontecendo, por impulso e medo empurrei James.

– O que você fez? – Olhei para James esperando uma resposta. Minha segunda reação foi tirar o casaco e joga-lo no chão.
– Eu acho que te amo. – James olhou para o casaco no chão, deixando uma lágrima cair, logo depois levantou o olhar me olhando.
– Você esta me amando da forma errada James. Por favor, me deixe sozinho. – Dei as costas e comecei a andar e ainda ouvi-o falar e parei para escuta-lo.
– Me prometa que não vai me abandonar.
– Eu não sei o que vai ser do dia de amanhã. Sinceramente eu não sei. – Respondi ainda de costas.
– Pelo menos se lembre de mim quando estiver no horizonte. Me promete?
– Me desculpa, mas eu quero ficar sozinho agora. – Voltei a andar sem olhar para trás.


Eu não sabia o que estava acontecendo comigo. Uma explosão de raiva e ao mesmo tempo de arrependimento. Eu gostei daquela sensação, sentir a boca dele contra a minha. O que estou pensando? Isso foi a coisa mais estúpida que já aconteceu em toda minha vida. Se as freias tiverem visto isso? Me deus, estou morto. E se elas não tiverem visto, será muito bom. Meu Deus. Droga. Será que Deus viu isso? Será que vou para o inferno? Vou pegar alguns caroços de feijão na cozinha e orar de joelhos em cima pedindo perdão a Deus por isso, não quero queimar no inferno. Droga. Droga. Droga. Como faço pra esquecer aquelas sensação? Droga. Preciso dormir por um longo tempo para tentar esquecer.

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